TÚNEIS DE PONTA FIGO

08-07-2017

O ponto de encontro é na sweet guest house com hora marcada após nos abastecermos de água, fruta e pão de Deus. Já sabemos que em Portugal não existe a pontualidade Britânica da qual sou fã, mas em São Tomé cada um vai chegando ao seu ritmo num leve-leve sem pressas onde quem chega primeiro (euzinha) aguardo impacientemente. Carros abastecidos, música no máximo, qual erupção do Krakatoa e aqui vamos nós.

Paramos em Guadalupe, a aldeia azul para comprar água de coco aos meninos á beira da estrada e curar alguma das ressacas escondidas por detrás dos óculos de sol. A estrada do norte é bastante diferente do Sul, estende-se á nossa frente como uma savana pontilhada de embondeiros rodeada de falcões e pirogas a circundar o mar. A cada passo, deparamos com a origem vulcânica da ilha, sobretudo nas negras pedras que bordejam quase toda a costa. As mais pequenas são usadas como almofariz adaptando-se á mão de quem as maneja para esmagar o tão delicioso tempero São-Tomense.

Passamos bem próximo da praia das conchas e da lagoa azul, ponto de mergulho de excelência, cheio de vida marinha onde podemos avistar, barracudas, corvinas e pequenos atuns protegido pelo farol da lagoa azul no morro do carregado. Quem não conhece esta estrada, não vai saber como lá chegar, pois em São Tomé as estradas secundárias por norma não estão identificadas. 

Um pouco antes de chegarmos á cidade de Neves, avistamos ao longe umas bóias gigantes a flutuar no mar. Objecto não identificado, são nada mais nada menos que reservatórios de gás lançados na baia da cidade em Dezembro de 2016 que aqui ficaram esquecidos após criação do projecto para produção e transporte de gás no país em parceria com a Guiné Equatorial, no governo do Patrice Trovoada. No entanto o projecto acabou por ser bloqueado pelo próprio Governo mas as botijas gigantes não conseguem ser bloqueadas e navegam sem rumo definido. Leve-Leve, a boiar-boiar em busca de um acidente ou incidente nas águas de São Tomé.

A cidade de Neves, capital do distrito de Lembá com aproximadamente 7500 habitantes atravessada pelo rio Provaz é das cidades mais industrializadas. Aqui podemos encontrar a fábrica de cerveja do Pais, Rosema bem como os depósitos de combustíveis que chegam ao arquipélago, provenientes do exterior, para depois serem distribuídos por todo território São-Tomense. A povoação piscatória é vibrante e todos fazem da rua a sua casa. Há bancas da CST (empresa de telecomunicações) para vender saldo do telemóvel espalhadas por toda a parte, as crianças de uniforme e mochilas às costas a caminho da escola são literalmente mais que as mães e os motoqueiros chamam a nossa atenção com o barulho do motor enquanto os vendedores pregam tudo e mais alguma. É aqui que podemos provar a famosa Santola de Neves acompanhada de uma cerveja local e tostas com manteiga. Os estudos apontam que mais de 30% do volume de negócios do país é feito através desta via uma vez que Neves é considerada a cidade industrial da ilha. O governo de São Tomé e o Banco Mundial assinaram um acordo financeiro em forma de donativo para reabilitação desta estrada que se encontra em forte estado de degradação.

Chegamos ao corte para Ponta Figo, também este mal identificado que nos leva á localidade de Generosa. Deposito a minha total confiança no "Futuro Presidente", conhecido e respeitado por todos na ilha que em pouco tempo encontra alguém que nos irá levar até á cascata de Angolares. Subimos em direcção ao pico de São Tomé e damos de caras com o reservatório de água ao que eles chamam de barragem. É um tanque gigante com capacidade para 50 metros cúbicos de água potável que conduzem ás populações de Generosa e Ponta Figo.

Entramos pelo parque Obô dentro por entre espécies endémicas e começamos a avistar vestígios dos Portugueses, nos antigos túneis e tubagens de captação de água. A paisagens é deslumbrante mas quando me aproximo dos túneis por onde terei de passar e avisto guembús a esvoaçar dentro da sua "casa" o pânico apodera-se de mim. Cubro a cabeça e o corpo com um pano e tento fazer aquele trajeto o mais rápido que posso, com lama que me cobre os pés e me faz duvidar o que por ali anda. Estes túneis percorrem um curso de água que vem da nascente e ao lado existe um caminho que o acompanha. Está escuro, é relativamente apertado e baixo, e quem vai á minha frente berra e trava sem fim, dificultando-me o trajeto. São seis túneis, um deles com mais de 500 metros onde não se vê o "fundo do túnel" e eu só quero que aquilo acabe. 

Chegamos á cascata de Angolares no meio de uma "gruta" para onde os escravos da zona de Angolares fugiam e se refugiavam. Eu mal consegui usufruir da queda de água e contemplar o que estava á minha volta, eu sabia que para sair dali teria de voltar a repetir tudo de novo mas felizmente que existe um outro caminho com apenas um túnel num percurso mais encurtado. Cheguei a Generosa praticamente sem voz de tanto gritar não me restando alternativa se não beber uma rosema para hidratar as cordas vocais.

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