PARQUE OBÔ
![](https://f87b16b769.clvaw-cdnwnd.com/8c3b9bca599751015d1c2f8e4b6a4d00/200000183-d101dd1fad/proteger%20o%20parque%20Obo%CC%82.jpg?ph=f87b16b769)
Recebi um convite através da
minha amiga portuense que trabalha na FAO para uma caminhada solidária contra o
abatimento ilegal das árvores no parque natural Obô.
O trajeto são aproximadamente 25 km (ai Jesus) começa na roça Monte Café e acaba na antiga roça Agostinho Neto. A entidade promotora deste evento foi a Associação Monte Pico fundada em 2006 , tem como objectivo contribuir para a conservação e preservação da natureza e apoiar o desenvolvimento do turismo sustentável. Junta-se a ela membros da equipa FAO e outros apoiantes.
Aderi de imediato, não só pela causa mas porque tenho por hábito fazer longas caminhadas em asfalto, disse bem, asfalto! mas deparo-me com caminhos de terra batida, lama ,folhas secas, pedras e encruzilhadas de árvores caídas, estou na floresta , aqui em São Tomé!
Fui mais ou menos bem equipada , sapatilhas ,roupa de algodão, uns leggins curtos pois as calças seriam demasiado quentes devido á humidade mas mais tarde arrependi-me tal eram os cortes nas pernas provocadas pelas silvas .Chegado ao monte Café é-nos dado água e duas sandes de mortadela para acompanhar no caminho. O João dá inicio á partida e logo começo a perceber a dificuldade do percurso.
![](https://f87b16b769.clvaw-cdnwnd.com/8c3b9bca599751015d1c2f8e4b6a4d00/200000188-8e91d8f8b9/caminhada%20parque%20obo%CC%82.jpg?ph=f87b16b769)
Somos aproximadamente 50 pessoas divididas em grupos de 3.Eu fico no grupo do Gege, um dos guias locais que também faz parte da associação Monte Pico especialista em aves, conhece o parque como a palma da mão. Quando começa a descrever a fauna com que nos vamos cruzando , percebemos nele o amor pelo parque.
A primeira sensação que sinto é de emoção, um misto de felicidade e contemplação. De facto a natureza consegue ser perfeita e é no meio dela que percebemos o quanto somos insignificantes e quanto merece o nosso respeito.
No meu trajeto pela floresta densa e húmida vou-me cruzando com cacaueiros, cafeeiros, bananeiras , coqueiros assim como árvores de sombra -espécies cultivadas e muitas espécies espontâneas de árvores, arbustos, lianas e ervas, entre as quais várias endémicas.
Dão-me a provar de quase tudo quando percebem que estou receptiva. Goiaba, morangos (as nossas framboesas), bananas, Folha de goiaba que mastigada serve para a prisão de ventre, a cata piquina para casos de hipertensão, cuaco Maguita para a disfunção eréctil, a folha micócó afrodisíaca também usada no calulu (estes dois últimos não arrisquei).
![](https://f87b16b769.clvaw-cdnwnd.com/8c3b9bca599751015d1c2f8e4b6a4d00/200000194-b4f63b5f0e/placa%20parque%20obo%CC%82-2.jpg?ph=f87b16b769)
Ainda só tínhamos caminhado 1km e damos de frente com o incontornável . Árvores de sombra e com importância na estabilidade do solo plantadas há mais de um século são abatidas ilegalmente. São árvores que produzem madeira de alta qualidade, para construção civil e para construção de mobiliários. No entanto , e para abater estas árvores é necessário uma autorização da Direcção das Florestas . Através da campanha "Plantar São Tomé e Príncipe", a Direcção das Florestas diz que pretende em primeiro lugar sensibilizar as crianças das escolas primárias e a população em geral sobre a necessidade de plantio de árvores, mas ali algo não batia certo.
![](https://f87b16b769.clvaw-cdnwnd.com/8c3b9bca599751015d1c2f8e4b6a4d00/200000193-116f7126b9/2-7.jpg?ph=f87b16b769)
No nosso percurso continuamos a nos cruzar com cascatas e riachos de água fresca , e podemos beber a água que escorre pelas rochas.
15 kms á frente paramos numa das aldeias para descansar e comer algo mas o meu grupo, que cada vez estava mais reduzido e sem o guia decide continuar .Descemos por um gigante túnel forrado por canas de bambo até ao nosso destino, mas quando nos deparamos com o cruzamento a lógica é seguir em frente. Mas não, segundo o Luís um dos membros da FAO diz-nos que é pela direita. A dor nos pés apoderava-se de nós mas mesmo assim não podíamos dar parte fraca.
Começamos a perceber rapidamente que não era por ali o caminho mas não ia contrariar um local de meia idade. Avistamos alguns miúdos a transportar lenha á cabeça e pedimos indicações. Agostinho Neto ainda estava muito longe. O nosso desvio era mais de 5km .grrrrrrrrrr
Um pouco desconfortável com a situação, o luis decide levarmos até a aldeia mais próxima onde a única carrinha existente nos levou até ao nosso destino. Foram os melhores 7kms do percurso mesmo com os solavancos e a posição desconfortável na carrinha de caixa aberta .
Fomos os primeiros a chegar a Agostinho Neto ,as duas tugas (eu e a portuense) vamos diretas a uma comunidade Cabo Verdeana e uma senhora septuagenária prontificou-se a nos ceder a sua humilde casa de banho. Ainda falámos um pouco das dificuldades da vida, da água potável, da falta de saneamento, da suas origens e porque para ali foi...
Uma mesa corrida debaixo de um largo com árvores ao som de morna estava pronta para nos receber. Hoje era sábado, e o ambiente estava tranquilo. Posteriormente voltei a Agostinho Neto num dia de semana e o ambiente era idêntico. As crianças andam por ali descalças a brincar com a água, a incomodar as galinhas ,os cães, e com tudo o que tenham acesso. Aqui são felizes na sua plena liberdade.
O Restante grupo começa a chegar e desconfia da nossa presença, As brrrancas chegaram primeiro? humm....
Já instalados na mesa comprida começamos por pedir super bock noiva (bem gelada) enquanto o polvo grelhado acompanhado de banana pão e fruta pão não chegava. Alguns de estômagos mais sensíveis pediram omeletas.
Depois dali fomos até á praia da carambola dar um mergulho ao ritmo do pôr-do-sol.
Regressamos a monte café já de noite sobre um céu salpicado de estrelas. Por ali havia agitação e gritaria. Fomos ver o que era. Hoje jogava o Benfica para a final do campeonato e aqui praticamente todos comemoram como se Portugueses fossem. Um espaço semi coberto com um mini ecrã cheio de adeptos ao rubro envoltos em cachecóis do clube , ouvia-se o relato misturado com o som do kizomba. Ora a portuense e eu somos azuis ,logo aquele fenómeno não nos interessava e por isso ficamos a apreciar as "skills" dos bailarinos infantis na pista de dança.
Esse dia em Portugal fez jus ao termo FFF , fado, futebol e Fátima. Mesmo assim ,torci pelo vencedor do festival da Eurovisão, o Salvador ! Aqui a música dele é intitulada como "aborrecida" , claro está.
O dia foi pleno com a promessa de voltarmos na próxima semana para outra caminhada (desta vez bem mais curta) e almoçar na casa do Gege.
Posteriormente nesse dia voltamos a percorrer alguns quilómetros pelo parque natural Obô até chegarmos á cascata vale do rio em Novo destino . Com mais de 50 metros de altura não resistimos a nos atirar para dentro daquela imensidão de água fresca. O regresso a Monte café foi árduo mas esperava-nos Lussua com arroz solto cozinhado pela mãe do Gege. O pitéu foi servido cá fora para mais de 12 pessoas .De prato na mão entre garfadas e risadas a hospitalidade comoveu-me e forrou-me o estômago ,mas mais tarde percebi que era apenas a entrada, depois disto fomos a casa da Dona Isabel provar o seu belo calulu de pato com angu (bolas de mistura de banana pontada ,cosida e pisada no pilão) acompanhada com uma garrafa de casal Garcia.
![](https://f87b16b769.clvaw-cdnwnd.com/8c3b9bca599751015d1c2f8e4b6a4d00/200000197-c12fcc228d/cascata%20do%20rio%20vale%20novo%20destino%20Sa%CC%83o%20Tome%CC%81.jpg?ph=f87b16b769)
Senti-me como aquelas bolas de banana de tão cheia que estava mas nem os mosquitos me tiraram a felicidade estampada no rosto.