A MIOPIA POLÍTICA EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

31-10-2025

O Ilhéu das Rolas, outrora um dos destinos turísticos mais emblemáticos de São Tomé, vive hoje um lento abandono. Com a saída do grupo Pestana, a pequena comunidade local — que dependia quase inteiramente do turismo — tem deixado o ilhéu em busca de melhores oportunidades. É um retrato amargo da fragilidade económica das nossas comunidades e da dependência excessiva de investimentos externos.


Não sou, por natureza, uma entusiasta dos grandes projetos turísticos que cobram preços exorbitantes aos visitantes e pagam salários que mal equivalem a uma noite de hospedagem. Ainda assim, é inegável que o investimento estrangeiro desempenha um papel essencial no desenvolvimento do país. Quando bem gerido, ele pode gerar emprego, dinamizar economias locais e melhorar infra-estruturas. O problema não está no investidor — está na ausência de uma estratégia nacional clara e de um Estado que saiba negociar em nome do seu povo.
É obrigação do governo exigir contrapartidas sólidas e transparentes. O turismo deve beneficiar, antes de mais, o cidadão santomense — não apenas as elites ou os investidores estrangeiros.


O exemplo da HBD, do multimilionário sul-africano Mark Shuttleworth, no Príncipe, é revelador. O grupo é hoje o maior investidor privado da ilha, responsável pela criação de empregos, pela recuperação de infra-estruturas como o aeroporto e a Roça Sundy, e por projetos sociais e ambientais de impacto visível. Contudo, até este investidor ameaçou recentemente abandonar o país, desgastado por disputas políticas e pela falta de estabilidade institucional.
Enquanto os partidos continuarem a colocar os seus interesses pessoais acima do desenvolvimento nacional, São Tomé e Príncipe continuará a perder — perde o investidor, perde o trabalhador, perde o país. O Ilhéu das Rolas é apenas mais um símbolo de um Estado que, ao hesitar entre a soberania e a dependência, acaba por não proteger nem um nem outro.

Crie o seu site grátis!